quinta-feira, 4 de maio de 2017

As obras de misericórdia

As obras de misericórdia. São catorze: sete corporais e sete espirituais. Vinculam a justiça e o coração: a misericórdia não pode esquecer a justiça, mas a justiça tem de ser mobilizada pela misericórdia. Para sermos humanos.


Obras de misericórdia corporais


1 “Dar de comer a quem tem fome”. Há certamente muitas outras necessidades: afecto, cultura, carinho, palavra… Mas a maior e mais urgente é a comida. Nem só de pão vive o homem, mas sem pão não vive. É uma vergonha haver comida suficiente para todos e morrerem de fome todos os dias 40 mil pessoas (16 mil crianças). Há várias, mas duas são “as causas principais” da fome: o egoísmo de indivíduos e de grupos e a injustiça do sistema dominante.

2 “Dar de beber a quem tem sede”. Sem água não há vida. Jesus disse: “Quem vos der de beber um copo de água não ficará sem recompensa.” Multiplicar-se-ão os conflitos por causa da falta de água. O Papa Francisco chamou a atenção para isso na encíclica “Laudato sí”, sobre a ecologia.

3 “Vestir os nus”. “Os nus carecem de protecção pessoal, estão indefesos, desarmados, e à mercê da violência alheia.” A roupa cobre, protege e dignifica. A nudez acaba por significar abandono e exclusão, e, sobretudo no caso das mulheres e das crianças, exploração e tráfico sexual.

4 “Dar pousada aos peregrinos”. No Evangelho segundo São Mateus, são referidos concretamente os estrangeiros, aplicando-se o termo grego “xenoi” concretamente a homens e mulheres que formam parte de um grupo social e cultural diferente: “Fui estrangeiro e acolhestes-me ou não me acolhestes”, dirá Jesus no juízo definitivo. “A pátria do cristão é o diálogo e o acolhimento.”

5 “Assistir aos enfermos”. Visitá-los, cuidar deles. Se, no Evangelho, há preocupação constante da parte de Jesus é pela saúde das pessoas, de quem cuida e que cura.

6 “Visitar os presos”. Não se trata simplesmente de visitar. Trata-se de “oferecer-lhes assistência e cura, porque estão em necessidade (sejam culpados ou não) e porque podem curar-se”.

7 “Enterrar os mortos”. Miséria suprema: morrer e não haver ninguém a reclamar os mortos. Mas se isso acontece na morte, já na vida viveram abandonados. Esta obra de misericórdia realiza-se verdadeiramente não só na sepultura do cadáver, mas na exigência de acompanhar e ajudar na velhice, de modo eficaz, com dignidade.



Obras de misericórdia espirituais.



1 “Dar bom conselho”. Uma tarefa de todos e para todos, mas de modo especial para os educadores, professores, conselheiros da consciência.

2 “Ensinar os ignorantes”. Jesus foi um “mestre de sabedoria, que ensinou o povo simples, mal guiado por escribas ao serviço do poder religioso”. Abriu os olhos das pessoas, para que pudessem descobrir o mistério de Deus e o seu amor para com todos, numa Escola de verdadeira Humanidade. O seu ensinamento não se dirigia à conquista do poder, mas ao serviço da sabedoria autêntica da vida plena.

3 “Corrigir os que erram”. Os profetas bíblicos sabiam disto e, por isso, denunciaram e exigiram capacidade de mudança, não apenas na linha da interioridade, mas também no nível da transformação social. Sem conversão pessoal, não há justiça que baste.

4 “Consolar os tristes”. Quem não precisa de consolação, em tempos de tanto desconsolo? Precisamos de quem seja fonte de paz para os outros, “para superar assim a depressão e a tristeza que vai crescendo como pandemia imparável numa Terra onde, ao lado de uma grande prosperidade, se estende a intransigência de alguns e a pobreza e desamparo de centenas de milhões de pessoas”. Desamparo material e desamparo espiritual.

5 “Perdoar as injúrias”. “Não se trata de perdoar, de um modo resignado, aguentando as injúrias, mas de converter o perdão em fonte de transformação pessoal e social. Quem perdoa não é cobarde, um ser passivo, incapaz de enfrentar o mal; pelo contrário, é alguém que vence o mal com o bem”, confiando, portanto, na conversão de quem ofende.

6 “Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo”. Aqui, está-se numa perspectiva diferente da da anterior: já não se trata de perdoar aos inimigos, mas de suportar os defeitos daqueles com quem partilhamos o caminho: familiares, amigos, colegas. Há limites para o intolerável, mas é fundamental perceber que é preciso ter paciência com as diferenças e defeitos dos outros: “os puristas radicais destroem não só famílias, mas comunidades religiosas, igrejas” e grupos.

7 “Rogar a Deus pelos vivos e defuntos”. Não se trata de espiritualismo perante o fracasso da vida, mas de comunhão profunda com todos no mistério da vida plena em Deus.



São também obras de misericórdia: proteger as mulheres, acolher/educar as crianças, perdoar as dívidas, libertar os escravos, partilhar os bens.

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